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Se não existe amor em SP, existe o quê?!

(Reencontrei a massa cinzenta gigantesca de São Paulo. Fomos novamente apresentados, novamente apaixonados. Um monte de insanidade. Um monte de ruas e pontes e viadultos e tanto faz. Todos esses muros delicada e pesadamente coloridos, estampados. Um mar de carros e histórias totalmente distintas, abarrotadas umas sob as outras. Enchi os olhos com toda a beleza mórbida desse lugar. Me permiti ser engolida por toda essa urbanização sem limites. Sorri, porque precisava mesmo disso. Guardei o sorriso, porque vai que Criolo tem razão. E nessa brincadeira de copos, bebidas, cigarros, faróis, vidas e sobrevidas, o que mais se tem é amor - desses que dão um alívio na alma por existirem. Fui feliz de novo. Dei um choque forte na alma, iludi meu coração com falsas certezas. Tudo bem. Ri sem motivo, só de pensar na vida, e como eu passei ela a limpo! Que bom que tive companhia e que a mesma supriu as lacunas que São Paulo jamais conseguiria.)

Quarta-feira
Partimos de Juiz de Fora. Colocamos gasolina, compramos um suco horrível e uns chocolates que acabaram por derreter com o sol da estrada. Caminho longo pelo sul de Minas, com um som de roncos imaginários mesclado com o cd mais ou menos arranhado que ou pulava alguma música ou agarrava - mas que é demais. Todo mundo tava exausto, o dia anterior foi rabo e a esbórnia cobra um preço. Deixamos o Kevin em casa e partimos em direção a São Paulo. Paramos para fumar um cigarro. Conhecemos um cachorro meio carente e seguimos caminho torcendo para não pegar o trânsito em horário de pico paulista. Pegamos, chegamos 18h em ponto por lá. Comemos, dormimos, fizemos coisas antissociais. Bernhard e eu fomos para o MASP, descemos a Augusta. São Paulo me trouxe os rolês individuais, daqueles que se conhece melhor o outro, na mesa de um bar, tomando cerveja litrão estupidamente gelada valendo dez pila. Conhecemos um mágico, e não é que o cara era bom? Desses mágicos que entregam uns truques, mas guardam o segredo de outros a sete chaves e consegue surpreender. Perdemos o tempo dos copos, depois perdemos o metrô. Paulista não sabe mesmo dar informação e todos os lugares são muito longe - ou é "ali" de mineiro que é muito presente na minha vida mesmo. Pegamos um ônibus, porque os policiais disseram que estávamos muito longe, mas ele só nos levou até a metade do caminho. Fomos a outra metade a pé, nos perdemos, Bernhard chutou uma pedra, uma lata, reclamou da chuva e eu tomei um tombo porque escorreguei com o meu chinelo da Brahma. Acho que por isso todo mundo anda de tênis por lá, mal sabem o conforto que é deixar os pés respirarem. Nem acreditei quando a minha miopia me permitiu ver a placa da rua que tínhamos que chegar, três horas depois de termos passado no metrô. Dormimos - e eu tava um tanto alegre com aquelas cervejas.

Quinta-feira
Meu alarme tocou raivosamente as 9h30. Fomos dar uma volta pelo bairro que estávamos mesmo e acabei comprando o óculos mais lindo da minha vida, de armação fina e dourada, com as lentes rosa, estilinho Cyndi Lauper. Minha mãe pagou um chopp pra gente, antes do almoço, "só para pensar melhor". Semana santa e os rolês gourmets foram carnívoros mesmo - e que puta strogonoff delicioso. Dormimos. Acordamos, nos enrolamos, saímos. Decidimos colar no MASP de novo, com uma garrafa de presidente e guaraná, conformados de que metrô só depois das 4h e que a madrugada ia ser insana. Conhecemos o Tiago, o cara que não era nem maluco, nem hippie, mas que me deu um colar ágata de fogo, porque era a pedra dele. Depois chegou o hugo, o outro hugo e a minha memória não me permite mais lembrar de outros nomes. Paramos no Safra. Descemos a Augusta, de novo. Dessa vez meio bêbada, meio chapada. Conhecemos o inferninho. Gente chapada pelos lugares, cerveja rolando, cigarros sendo acesos e apagados all the time, all night long, over and over again. Jogamos sinuca. Umas minas pegaram meu telefone - e até me mandaram mensagem no dia seguinte -, só que não dei moral. Quando nos demos conta, chegamos em casa seis e pouca.

Sexta-feira
Era para ter rolado um bate e volta pela praia. Não rolou, chegamos na hora do pão e o corpo precisava dar uma descansada. Hugo tinha dito que o rolê ia ser fraco, pelo dia que a sexta representava, mas que sábado o bicho ia pegar. Não comemos nada. Ajudamos a minha mãe a buscar a nova integrante canina da família, em algum canto de São Paulo difícil de achar. Nos perdemos. Pedimos informação a um taxista oldschool que procurou o nome da rua em questão num guia de 2014. Voltamos para casa, com um filhote no colo e uma quase sauninha automobilística. Comemos, dormimos. Nessas horas que eu reflito o quanto meus horários de sono estavam desregulados e aleatórios. Fui acordada do melhor jeito da minha vida até hoje. Fomos beber na padaria 24h em frente a Praça da Árvore, perto de casa, de leve. Sexta da paixão rendeu uma dessas conversas pessoais, dos casos de infância aos momentos mais constrangedores das nossas vidas. Fomos antissociais e fomos embora.

Sábado
Nem lembro que horas acordei. Sei que tomamos um banho, comemos e partimos rumo 25 de março e galeria do rock, com uma câmera no pescoço e um maço de cigarros no bolso. A galeria do rock é um conjunto de gente bizarramente feia e bizarramente linda, fiquei apaixonada e desmotivada em uma questão minúscula de segundos. Outra coisa que me encheu os olhos foi, com certeza, os inúmeros adornos para usuários de cânhamo e as máscaras boladas do Jason. Saímos, sentamos na praça, fumamos um cigarro e comemos o churrasquinho grego com salada e suco grátis por dois conto. Nem passei mal no dia seguinte, mas me lembro de achar que era gato e o suco gelatina quente, recomendo. Demos um rolê central, tiramos pouquíssimas fotos, voltamos. Dormimos, acordamos, saímos para o rolê preparados para o que viesse, afinal, última noite. Encontramos a Hell no MASP, descemos até o Safra, achamos o Hugo. Conhecemos um cara meio chato, amigo da Hell, mas a noite se encarregou de afastar ele do rolê. A insanidade de São Paulo invadiu as portas da minha mente e me permiti ser engolida pela cidade cinza. A Augusta tinha outra cara, abarrotada de esbórnia e doidões, que paravam consecutivamente com a gente e falavam meia dúzia de bostas. Vinicius Vinci foi o doidão mais legal de que eu consigo me lembrar, puta cara bêbado que vetou o mendigo que tentou falar com a gente, porque estávamos num assunto profundo e só dá pra conversar com um doidão por vez. Quatro e pouca e São Paulo já estava me vomitando pra Minas, com uma garganta inflamada e o corpo doendo, pedindo por um metrô, colo e cama. Fomos embora. Não sei o que me deu, mas arrumei uma risaiada gostosa quando cheguei em casa, muita onda. Dormimos, porque precisávamos viajar no dia seguinte, que já era aquele dia.

Domingo
Páscoa, dia de embora, coração sorrindo porque o céu mineiro começou a me fazer falta aos olhos. Acordei mal, mas tentei lutar com a garganta inflamada. A missão foi concluída até São Gonçalo do Sapucaí, quando chegamos para buscar o Kevin. Já tinha anoitecido, decidimos ficar por lá. Fiquei mal, deitei, ignorei a vida, me entreguei aos olhos ardendo e a febre de amigdalite que eu detesto. Não ganhei chocolate, mas ganhei essa gripe, porque novamente a esbórnia cobra um preço. Deixamos para o dia seguinte a volta, porque esse feriado pediu uma extensão de diversas formas. Que bom que fomos, mais ainda, que bom que voltamos.

3 comentários:

  1. Sam, esse se tornou um dos meus favoritos. Te disse né, as frases curtas, os significados. As sensações. Curti demais mesmo!
    Se prepara pra nossa! <3

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  2. Aaaaaaah, se aquele Safra pudesse falar, quantas histórias contaria! As minhas eu deixei por lá há alguns anos atrás. MASP hoje em dia me lembra que não tenho dinheiro pra fazer o curso de História da Arte e que a feirinha que rola aos finais de semana é absurdamente cara, prefiro as artes dos que nunca saem dali.
    Adorei a sua forma de escrever nesse texto e que você volte logo <3

    Beijooos!
    Tribo Alternativa

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  3. existe amor em SP, ele so se perde na confusão entre a 25 e Augusta.

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